A falácia da inclusão
João
Batista Freire
Nestes tempos de discursos sobre diversidade e inclusão,
choveram medidas legais para incluir crianças com deficiência nas escolas.
Imagino que alguns burocratas de secretarias de educação mandaram fazer
carimbos para ficar mais fácil: “Inclua-se!”. O pepino fica para professoras e
professores, coordenadoras e coordenadores pedagógicos, diretores e diretoras.
Os burocratas do ensino, de maneira geral, entendem inclusão como enfiar dentro
de salas de aula pessoas com deficiências, não importa quais sejam. Mas, neste
meu breve comentário, passarei longe dessa questão mais específica da
deficiência, porque, antes dela, já tínhamos um problema seríssimo de exclusão
que pouca gente algum dia quis considerar.
Colocarei uma situação: de uns anos para cá, todos os que
cursam a educação básica, passam 12 anos em escolas, para aprender os conteúdos
de disciplinas como a Matemática, o Português, a Geografia, a História, a
Química, etc. Os alunos passam esses 12 anos dentro de salas de aula, em
carteiras, geralmente individuais e com um espaço de movimentação de mais ou
menos meio metro quadrado. Precisam ficar sentados para diminuir sua
mobilidade. As salas são retangulares e as carteiras dispostas simetricamente
em dois sentidos (nestes tempos de Deleuze parece que estou falando de
Foucault). A regra manda que os alunos permaneçam quatro horas por dia nessa
imobilidade (por enquanto, até que se consolide a educação de tempo integral).
No Brasil temos 200 dias letivos por ano. Fazendo as contas temos um total de
9600 horas de permanência nessa situação ao longo da vida escolar, dos seis
anos até os 17 anos mais ou menos. Bons anos, anos de extrema plasticidade, de
infância e juventude, anos que a natureza destinou à formação da imaginação, do
pensamento concreto e do pensamento virtual, do desenvolvimento das habilidades
corporais, da sexualidade, dos projetos de vida, dos rituais de inclusão
social, etc. Boa parte desses anos confinados em seus cubículos, para aprender
as disciplinas escolares. Aprendem? As avaliações dizem que não. Cada um de
nós, fazendo seu inventário de aprendizagens, também diz que não, salvo as
exceções.
Talvez eu já pudesse parar por aqui meu comentário sobre
a falácia da inclusão escolar. Nestes tempos de discursos sobre a diversidade,
a estrutura escolar, incluindo sua arquitetura, é para formar iguais, é para
eliminar as diferenças. Todos sentados e imóveis parecem iguais. Todos em
silêncio parecem iguais. Os diferentes são aqueles poucos que escapam a esse
sistema, não por sua própria vontade, geralmente, mas por providências de
famílias que lhes providenciam outras formas de se preparar para a vida e, um
dia, dirigir as vidas dos outros para que elas sejam todas iguais.
Todos iguais, todos excluídos, exceto as exceções, que
não são por acaso.