O viver único
João
Batista Freire
Há diversas maneiras de morrer, só
uma não consentida; as demais, mais ou menos consentidas, algumas por
ignorância, outras por desistência, outras por covardia, outras por fraqueza.
Muito peculiar é deixar-se morrer no viver único. A comida única, a música
única, a TV única, a internet única, a roupa única, o pensamento único, a
política única, o partido único, a educação única, o livro único.
A recusa da diversidade é o viver
único, essa forma de morrer que asfixia a liberdade. É a aceitação das
ditaduras, esses sistemas de aprisionamento que tornam a igualdade a maior
fonte de lucro de que se tem notícia na história. Por muito tempo as ditaduras
foram privilégio dos Estados, os únicos que lucravam com a igualdade. O
Mercado, quando elevado à categoria divina, descobriu como fazer delas sua
maior fonte de lucro. Curvamo-nos como cordeiros aos pés dessas ditaduras que
nos dizem o que comer, o que vestir, o que ouvir. Em troca de tantos benefícios
só temos que recusar a diversidade, como se dizer não às crianças, aos negros,
às mulheres, aos homossexuais, aos deficientes, aos idosos, acabasse com as
diferenças. As ditaduras odeiam as diferenças e julgam que os preconceitos
servem de vacina contra elas. Mesmo alguns que clamam e lutam contra as
ditaduras políticas, curvam-se às ditaduras não declaradas do viver único.
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