sábado, 16 de outubro de 2010

TRANSDISCIPLINARIDADE

Transdisciplinaridade

Para escrever este ensaio sobre o tema transdisciplinaridade, cito uma fábula “As formigas e a pena”, do poeta indiano Idries Shah, autor do famoso livro “Mullá Nasrudin”.

Certo dia, uma formiga que caminhava, perdida sobre uma folha de papel, viu uma pena que escrevia em finos e negros movimentos ritmados.

- Que maravilha! – exclamou. – Essa coisa notável possui vida própria! E faz rabiscos tão extensos e com tanta energia, nesta bela superfície, que chega a se igualar aos esforços de todas as formigas do mundo.

- Os rabiscos que faz, parecem formigas! Não uma, mas milhões de formigas correndo juntas!

Ela repetiu suas idéias para uma companheira pesquisadora, que ficou interessada em sua história e elogiou seus poderes de observação e reflexão. Mas outra formiga disse:

- Aproveitando-me de seus esforços, devo admitir que tenho observado esse estranho objeto e cheguei à conclusão de que ele não é o dono de seu próprio trabalho.

Você falhou em observar que a pena está ligada a outros objetos que a rodeiam e conduzem. Estes devem ser considerados como a origem de seu movimento e reconhecidos como tal.

Desse modo, as formigas que entendiam de anatomia descobriram os dedos.

Passado algum tempo, outra formiga escalou os dedos e percebeu que eles compreendiam a mão, que ela explorou total e municiosamente, ao estilo da sua espécie. Voltou, então, para junto de suas companheiras e gritou-lhes:

- Formigas! Tenho importantes notícias para vocês. Aqueles pequenos objetos que rodeiam a pena fazem parte de outro muito maior. E este é que, realmente, dá movimento a todos eles.

Mas, então, as formigas descobriram que a mão estava ligada a um braço; que o braço estava ligado a um corpo, que não existia uma, e sim duas mãos; e que existiam pés, que não escreviam.

As investigações prosseguiram e, assim, as formigas puderam formar uma idéia clara da mecânica da escrita.

Porém, através de seu método de investigação costumeiro, não conseguiram descobrir o sentido e a intenção do que estava escrito, nem como aquilo era, em última análise, governado, porém iriam consultar outras formigas entendidas no assunto.

Pois bem, com base no artigo 13 da Carta da Transdisciplinaridade, elaborada no Primeiro Congresso Mundial da transdisciplinaridade, Convento de Arrábida, Portugal, (1994): “A ética transdisciplinar recusa toda atitude que se negue ao diálogo e à discussão, seja qual for sua origem – de ordem ideológica, científica, religiosa, econômica, política ou filosófica. O saber compartilhado deveria conduzir a uma compreensão compartilhada, baseada no respeito absoluto das diferenças entre os seres, unidos pela vida comum sobre uma única e mesma Terra”.

E no artigo 14: “Rigor, abertura e tolerância são características fundamentais da atitude e da visão transdisciplinar. O rigor na argumentação, que leva em conta todos os dados, é a melhor barreira contra possíveis desvios. A abertura comporta a aceitação do desconhecido, do inesperado e do imprevisível. A tolerância é o reconhecimento do direito às idéias contrárias às nossas”.

Transdisciplinaridade é uma concepção do conhecimento, um novo método de investigação uma nova compreensão do ser-humano e do mundo.

Ciro Goda. 20/ fevereiro/ 2008.

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