Educar
João
Batista Freire
Educar não é fácil ou difícil, não
se trata de discutir isso, porque educar é inevitável. Pelas características do
ser humano, nascido frágil por sua estrutura morfológica, incompleto,
inacabado, só a educação pode salvá-lo das dificuldades pelas quais passaria
valendo-se apenas dos recursos naturais. A educação provê o ser humano do
arcabouço cultural capaz de aumentar suas chances. Portanto, não está ao nosso
alcance decidir se vamos ou não educar o homem; desde que passa a ter contato
com a cultura humana, logo ao nascimento, ele começa a ser educado.
É tão importante a educação no homem
que as instituições tomaram a si o encargo de educá-lo de forma sistemática,
definindo os conteúdos que ele deveria aprender e, de modo um tanto mais
difuso, definindo também os métodos de ensino.
Todas as sociedades educaram seus
habitantes, da mais humilde aldeia às maiores metrópoles. Além das
instituições, todos os meios de comunicação influenciam na educação humana.
Portanto, cada qual ao seu modo, instituições públicas e privadas, meios de
comunicação, arte, esporte, etc., sempre participaram da educação dos humanos.
Trata-se, isso sim, de discutir para
onde vai a educação, ou que rumo devemos dar a ela para formar cidadãos. Nas
sociedades fechadas, como as ditaduras, não há dúvidas quanto a isso: as
pessoas devem ser educadas para servir o Estado, nunca para serem autônomas,
questionadoras, críticas. Seria impensável na sociedade alemã nazista uma
educação democrática. Nas sociedades religiosas, geralmente regimes fechados
como as ditaduras, também não há dúvidas: as pessoas são educadas para
atenderem as palavras sagradas, as profecias, as verdades divinas. Nas aldeias
mais remotas educa-se pessoas para manterem as tradições, para caçarem,
plantarem, pescarem, darem conta da sobrevivência diária. Nas corporações
mercantis, faz-se de tudo para que as pessoas se tornem grandes consumidoras de
produtos, de modo a garantir o lucro dessas corporações.
Só uma sociedade, de fato, democrática,
pode admitir uma educação para a liberdade, uma vez que uma boa democracia não
tem medo da crítica, sabedora de que a crítica fortalece a sociedade. A
sociedade democrática, ao contrário da sociedade autoritária, convive com a
diversidade, admite incluir todos, dialoga com opiniões contrárias, etc. A
sociedade democrática pode difundir uma educação que torna as pessoas livres
para escolher seus caminhos, com a responsabilidade de responder pelo bem-estar
de todos.
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