terça-feira, 10 de novembro de 2015

Educar



Educar
                                                                                   João Batista Freire

            Educar não é fácil ou difícil, não se trata de discutir isso, porque educar é inevitável. Pelas características do ser humano, nascido frágil por sua estrutura morfológica, incompleto, inacabado, só a educação pode salvá-lo das dificuldades pelas quais passaria valendo-se apenas dos recursos naturais. A educação provê o ser humano do arcabouço cultural capaz de aumentar suas chances. Portanto, não está ao nosso alcance decidir se vamos ou não educar o homem; desde que passa a ter contato com a cultura humana, logo ao nascimento, ele começa a ser educado.
            É tão importante a educação no homem que as instituições tomaram a si o encargo de educá-lo de forma sistemática, definindo os conteúdos que ele deveria aprender e, de modo um tanto mais difuso, definindo também os métodos de ensino.
            Todas as sociedades educaram seus habitantes, da mais humilde aldeia às maiores metrópoles. Além das instituições, todos os meios de comunicação influenciam na educação humana. Portanto, cada qual ao seu modo, instituições públicas e privadas, meios de comunicação, arte, esporte, etc., sempre participaram da educação dos humanos.
            Trata-se, isso sim, de discutir para onde vai a educação, ou que rumo devemos dar a ela para formar cidadãos. Nas sociedades fechadas, como as ditaduras, não há dúvidas quanto a isso: as pessoas devem ser educadas para servir o Estado, nunca para serem autônomas, questionadoras, críticas. Seria impensável na sociedade alemã nazista uma educação democrática. Nas sociedades religiosas, geralmente regimes fechados como as ditaduras, também não há dúvidas: as pessoas são educadas para atenderem as palavras sagradas, as profecias, as verdades divinas. Nas aldeias mais remotas educa-se pessoas para manterem as tradições, para caçarem, plantarem, pescarem, darem conta da sobrevivência diária. Nas corporações mercantis, faz-se de tudo para que as pessoas se tornem grandes consumidoras de produtos, de modo a garantir o lucro dessas corporações.
            Só uma sociedade, de fato, democrática, pode admitir uma educação para a liberdade, uma vez que uma boa democracia não tem medo da crítica, sabedora de que a crítica fortalece a sociedade. A sociedade democrática, ao contrário da sociedade autoritária, convive com a diversidade, admite incluir todos, dialoga com opiniões contrárias, etc. A sociedade democrática pode difundir uma educação que torna as pessoas livres para escolher seus caminhos, com a responsabilidade de responder pelo bem-estar de todos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário