Sobre nós, os pequenos e
sem importância – Parte 2
João
Batista Freire
Gosto muito de conversar com
motoristas de táxi. Sábado passado estava eu a conversar com um deles, vindo do
aeroporto de Maceió para o hotel, quando vimos uns meninos, no semáforo, se
oferecendo para limpar os vidros dos carros em troca de um troco. Quando o
sinal deu verde e saímos comentei dos pequenos e sua pouca importância para o
mundo, e arrematei para o taxista: se você quiser ganhar dinheiro, tem que
tirar de quem é pobre, pois é o pobre que tem dinheiro. Está vendo esse menino
aí, apontei, quando ele juntar um dinheirinho vai correr ao boteco e pedir uma
Coca-Cola. A empresa vai ganhar dele talvez dez ou vinte centavos. Parece
pouco, mas os meninos pobres não são poucos, são milhões, bilhões, cada um
contribuindo com seus dez centavos para a riqueza do rico. E o rico sabe de
onde vem o dinheiro, sabe como é difícil explorar rico, e sabe como é fácil
explorar pobre.
Assim somos todos nós, o povo que
soma a pequena classe média e a pobreza. Se a gente aprendesse a ensinar coisas
boas para essa criançada, um pouquinho que fosse daria uma riqueza danada de
conhecimentos, poderia mudar o mundo. E nós, humildes e pequenos professores,
tão sem importância, se tornássemos nossas aulas de amanhã um pouco melhores
que as de hoje, seria um mundão de aulas melhores, porque somos pequenos e sem
importância, mas somos muitos, somos quase toda a população do mundo.
Nós, os pequenos e sem importância,
nem sabemos a importância que temos. Nossas aulas, com o poder de mudar o
mundo, mantém o mundo sempre igualzinho, do jeito que os donos do mundo gostam.
Na nossa salada falta um tempero
chamado consciência.
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