segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Sobre nós, os pequenos e sem importância - Parte 2



Sobre nós, os pequenos e sem importância – Parte 2
                                                                                   João Batista Freire
                                                          
            Gosto muito de conversar com motoristas de táxi. Sábado passado estava eu a conversar com um deles, vindo do aeroporto de Maceió para o hotel, quando vimos uns meninos, no semáforo, se oferecendo para limpar os vidros dos carros em troca de um troco. Quando o sinal deu verde e saímos comentei dos pequenos e sua pouca importância para o mundo, e arrematei para o taxista: se você quiser ganhar dinheiro, tem que tirar de quem é pobre, pois é o pobre que tem dinheiro. Está vendo esse menino aí, apontei, quando ele juntar um dinheirinho vai correr ao boteco e pedir uma Coca-Cola. A empresa vai ganhar dele talvez dez ou vinte centavos. Parece pouco, mas os meninos pobres não são poucos, são milhões, bilhões, cada um contribuindo com seus dez centavos para a riqueza do rico. E o rico sabe de onde vem o dinheiro, sabe como é difícil explorar rico, e sabe como é fácil explorar pobre.
            Assim somos todos nós, o povo que soma a pequena classe média e a pobreza. Se a gente aprendesse a ensinar coisas boas para essa criançada, um pouquinho que fosse daria uma riqueza danada de conhecimentos, poderia mudar o mundo. E nós, humildes e pequenos professores, tão sem importância, se tornássemos nossas aulas de amanhã um pouco melhores que as de hoje, seria um mundão de aulas melhores, porque somos pequenos e sem importância, mas somos muitos, somos quase toda a população do mundo.  
            Nós, os pequenos e sem importância, nem sabemos a importância que temos. Nossas aulas, com o poder de mudar o mundo, mantém o mundo sempre igualzinho, do jeito que os donos do mundo gostam.
            Na nossa salada falta um tempero chamado consciência.

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